Pular para o conteúdo principal

É hora de perdoar quando pais tóxicos envelhecem?




É hora de perdoar quando pais tóxicos envelhecem 
e se tornam frágeis?


“Querido pai, tu me perguntaste recentemente por que afirmo ter medo de ti. Eu não soube, como de costume, o que te responder, em parte justamente pelo medo que tenho de ti, em parte porque existem tantos detalhes na justificativa desse medo, que eu não poderia reuni-los no ato de falar de modo mais ou menos coerente”. É assim que começa “Carta ao pai”, texto escrito por Franz Kafka quando tinha 36 anos. O ano era 1919, e esse gênio da literatura já havia produzido “A metamorfose” e “O processo”, mas a carreira de escritor estava estagnada. No manuscrito de quase cem páginas, que nunca foi enviado a seu destinatário, Kafka fala do sentimento de nulidade que frequentemente o dominava e que, segundo ele, era fruto da relação aterrorizante que tinha com o pai, Hermann Kafka, um comerciante de modos brutais: “seja como for, éramos tão diferentes e nessa diferença tão perigosos um para o outro, que se alguém por acaso quisesse calcular por antecipação como eu, o filho que se desenvolvia devagar, e tu, o homem feito, se comportariam um em relação ao outro, poderia supor que tu simplesmente me esmagarias sob os pés, a ponto de não sobrar nada de mim”. O que aconteceria se o escritor, que morreu precocemente, tivesse que cuidar desse pai tirano?


É claro que pais e mães falham, como qualquer ser humano, mas me refiro a relações tóxicas, carregadas de perversidade, dentro de casa, o espaço que deveria ser de proteção e aconchego. Os abusos – físicos, verbais e até mesmo sexuais – causam danos tão severos que essas marcas acompanham os indivíduos por toda a sua vida. Todos deveriam ter acesso a ajuda terapêutica, mas não é o que acontece. Muitos não conseguem superar as humilhações e vivem existências dilaceradas. Pode ser que pais tóxicos e abusadores tenham aprendido esse comportamento com seus próprios pais, mas, ao serem incapazes de interromper esse ciclo de tormenta, deixam um legado de dor para as gerações seguintes. Romper com tudo também tem um alto custo emocional.

Legalmente, os filhos são responsáveis pelos pais idosos, mas o aspecto jurídico está longe de esgotar o assunto, como explica a psicóloga, psicanalista e especialista em gerontologia Eloisa Adler: “na verdade, o que emerge é a questão de como cuidar de pais velhos com quem não foram construídas relações amorosas no decorrer da vida. Normalmente pensamos no idoso como uma entidade em si, alguém vulnerável que precisa ser protegido, sem levar em conta sua trajetória, quando a história da relação familiar é fundamental nesse momento tão difícil do ciclo vital. 

Mesmo que a carga emocional de assistir ao declínio dos pais seja pesada, esse processo é menos penoso quando há um lastro de amor e afeto”. Não há soluções prontas, diz ela, mas a dificuldade do cuidado é agravada em relações familiares conflituosas. Na sua opinião, uma palavra – ressignificação – pode trazer esperança para guiar o comportamento desses filhos que sofreram: “pode ser impossível para a pessoa cuidar diretamente desse pai ou dessa mãe.
No entanto, esse filho ou filha pode administrar os cuidados, ou seja, zelar para que o idoso receba o atendimento adequado. Embora o envolvimento não seja o mesmo, este pode ser o caminho para buscar um novo sentido para aquela relação que foi tóxica no passado, e eventualmente aliviar o ressentimento de uma história de maus tratos ao longo da vida.

(Adaptado da Web)

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

16 doenças mentais que confundimos com virtudes

O que diferencia um comportamento razoável de outro patológico é a intensidade, frequência e grau de prejuízo que causa para a própria pessoa e os outros. Nossa sociedade não é das mais saudáveis mentalmente, visto que psicopatas são CEO’s, estelionatários podem ser políticos. Então o fato é que aquilo que é visto como virtude na real pode dar indícios de um fundo patológico que ninguém percebe. Nem todas as pessoas que têm essas características têm a psicopatologia, mas todas as pessoas com o distúrbio costumam ter esses pontos em comum, ou seja, um item isolado não faz o diagnóstico completo (normalmente mais de cinco em cada patologia).  Sexy – a sensualidade está longe de ser um problema, principalmente em contexto adequado ela é um afrodisíaco para conquistar alguém para intenções afetivas ou sexuais. Mas se ela é inadequada, invasiva, exagerada, dramática e acompanhada de uma necessidade desesperada de chamar atenção pode ser sinal de Transtorno de Personalidade Histriôni

4 maus costumes que podem destruir seu casamento

Imagine a seguinte cena: você chega do trabalho e seu parceiro já começa a cobrar ou a reclamar de algo, você responde de forma ríspida e os dois começam então uma sequência de críticas, insultos e acusações. No final, não há um acordo entre vocês – nem um e nem outro reconhece o erro e o clima pesado toma conta da casa. Essa situação é familiar para você? Se for, não se desespere! O primeiro passo para quebrar esse hábito é reconhecê-lo. Depois, é preciso também estar disposto a mudar, caso contrário, muito provavelmente, seu casamento entrará em uma crise, afinal atitudes como essas destroem qualquer relacionamento. Então, tome cuidado e não repita os seguintes costumes que podem se tornar muito nocivos para o seu casamento: 1. O costume de revidar Quando marido e esposa respondem negativamente um ao outro, a conversa fica cada vez mais hostil. E os comentários negativos crescem cada vez mais com a raiva e frustração. Deste modo, a tendência será sempre pensar que “o que vai

PESSOAS TÓXICAS - CUIDADO!

Muitos dos problemas de autoestima que afetam milhares de jovens e adultos nada têm a ver com doenças de carater emocional ou psicológico, (embora possam vir a se tornar um problema desse genero), mas a sua genese está nas pessoas tóxicas que permitem que interfiram e permaneçam na sua vida. Estas pessoas têm a capacidade de despertar o pior que há em nós e até de nos fazer acreditar que somos frageis, instáveis, incapazes de tomar decisões sem o seu parecer, incapazes de nos relacionar com o próximo e de sermos independentes. Por norma, as pessoas tóxicas procuram controlar os outros através do abuso emocional. Levam os que lhes são próximos- através das críticas constantes- a crer que algo terrível lhes acontecerá se algum dia se desprenderem deles. Incapazes de fazer um elogio, dão ares de conhecer grandes segredos a respeito das outras pessoas, de saber coisas que mais ninguém sabe, tudo para os certificar que a terra para de girar se eles assim o desejarem. Muitas pessoas