O que a psicanálise tem a oferecer para o tratamento da obesidade ?
Bem, na maioria das vezes uma pessoa vai ao consultório após várias tentativas frustradas de dieta. No entanto, o que o psicanalista tem a oferecer é totalmente diferente do que as pessoas imaginam. Acostumados com o corpo que devem emagrecer, os obesos estranham o espaço aberto para falar sobre suas angústias.
Passivos diante dos especialistas do emagrecimento, eles se espantam quando lhes é dada a palavra. Não recebem prescrição, não são recriminadas e, acima de tudo, não precisam subir na balança.
No consultório, queremos saber do vazio, da angústia daquela situação, da insatisfação por trás da comida. Procuramos entender o que acontece no inconsciente daquela pessoa que busca sempre a mesma forma de conforto, mesmo a vida oferecendo um leque vastíssimo de opções para o apaziguamento da dor, tais como trabalhar, criar, se divertir, se relacionar, entre muitas outras.
O obeso acaba se acostumando a não falar do seu peso, daquilo que o incomoda de forma verdadeiramente íntima. É como se estivesse em permanente castigo, adiando a própria vida: faz planos para quando emagrecer. E enquanto o peso ideal não chega, ele não “pode” viver. Aos poucos se forma uma bola de neve, afinal, adiar a vida gera ainda mais angústia.
A psicanálise visa a criação de espaço para que o paciente obeso fale da dor de não conseguir fazer aquilo que lhe é imposto. O fato é que ninguém parece estar interessado em ouvir sobre a subjetividade dessas pessoas – nem o professor da academia, nem a amiga magra e sua nova dieta. Não se importam muito com o que o obeso tem a dizer, ao contrário: as pessoas sempre têm algo a lhe dizer.
Ao longo das sessões de análise, vão aparecendo as relações interpessoais – sempre tão frágeis e superficiais -, o incômodo em viver numa sociedade onde prevalece a valorização exacerbada da aparência, as crises profissionais num mundo extremamente competitivo. Enfim, questões tão comuns na contemporaneidade e que acabam por gerar nas pessoas as mais variadas compulsões, tais como consumismo desenfreado, alcoolismo, drogadicção, e também a compulsão alimentar. As angústias que aparecem na maioria das pessoas é vivida, pelas pessoas obesas, como um vazio a ser preenchido pela comida.
Oferecemos a possibilidade de trabalhar com as causas que geram esse vazio, com os sentimentos de desamparo, fraqueza, e de que maneira isso conduz a uma falsa solução, a comida. Tudo isso por meio de uma escuta especial sobre o que ocasiona essa busca desenfreada e sobre o por quê da repetição de uma solução que, a bem da verdade, não traz satisfação. E tentamos fazer com que o analisando possa olhar para sua angústia e através dela se reinventar.
O processo terapêutico conduz a uma percepção que pode gerar escolhas importantes frente àquilo que incomoda o paciente. Buscar prazeres menos fugidios do que o alimento, que, mesmo ingerido em grandes quantidades, não traz consistência e nem satisfação a longo prazo.
Perfeito, mais uma vez, Aglair! As compulsões estão em toda parte e bem ao nosso redor... cada um com a sua! Seja ela negativa ou até mesmo positiva de alguma forma! Sim, porque tb podemos ter compulsão pelos nossos talentos, não é mesmo? Aí, talvez já entre num processo de insegurança e baixa autoestima, em que a pessoa tem necessidade de se mostrar a qualquer custo, pra ser admirada e respeitada, dentre outras coisas!
ResponderExcluirBj
Helô
P.S. sempre é um bálsamo, ler vc!
muitas vezes a fome é o vazio que nos cerca. parabens.
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